As riquezas da cultura brasileira são oriundas de todas as regiões do País. Nas décadas de 1960 e 1970, embora muitos artistas tenham migrado para o eixo Rio-São Paulo – pois era onde se concentravam os festivais de música, as emissoras de rádio e os incipientes canais de TV –, a Música Popular Brasileira constituía-se num primoroso mosaico. A gaúcha Elis Regina, os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil e o paulista-carioca Chico Buarque são só alguns dos exemplos mais evidentes. Mas a terra dos inconfidentes também estivera bem representada. Sorrateiro e sereno como um bom mineiro, o Clube da Esquina, encabeçado por Milton Nascimento, mostrou ao mundo a genialidade da gente brasileira.
Ao contrário do que possa parecer, o Clube da Esquina não existia enquanto espaço físico: tratava-se tão-somente de uma esquina entre as ruas Paraisópolis e Divinópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte. De dia, as crianças ali brincavam; à noite, os jovens tocavam suas violas, tomavam batidas de limão, namoravam e não deixavam os sonhos envelhecerem – mesmo com a crescente repressão do regime militar, instaurado com um golpe de estado em 1964.
Além do já citado cantor e compositor Milton Nascimento, o clube possuía outros “associados”, como os irmãos Márcio e Lô Borges, o compositor Fernando Brant, o multi-instrumentista Beto Guedes, os músicos Wagner Tiso e Toninho Horta, dentre outros. Cada um desses indivíduos é responsável, de alguma forma, pela concretização do “movimento” mineiro. Na verdade, é importante ressaltar que, diferentemente do movimento tropicalista ou das manifestações artísticas ligadas ao CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE, o Clube da Esquina não possuía um manifesto, propostas políticas, objetivos bem delineados ou qualquer outra característica comum aos movimentos artísticos daquele período. Contudo, isto não o torna menor, pois fora justamente com este posicionamento aparentemente “descompromissado” que eles confrontaram a realidade latino-americana.
Pode-se dizer que o embrião do Clube crescera paralelamente à amizade entre Bituca – como Milton era chamado pelos amigos – e Márcio Borges. Depois de assistirem a inúmeras sessões do filme Jules et Jim, de François Truffaut, os dois foram à casa da família Borges iniciar uma parceria que duraria anos. Daquele encontro nasceriam canções como "Crença", "Irmão de Fé" e "Gira, girou", que entrariam no primeiro disco de Milton, gravado em 1967. Já a parceria com Fernando Brant ocorre de maneira diferente. Milton havia composto uma canção e não sabia quem deveria pôr a letra. Assim, decide que Fernando seria a pessoa ideal para, através das palavras, expressar o que ele queria dizer com a música. Depois de muito hesitar, Fernando Brant escreve a bela "Travessia" – última palavra do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e, até hoje, uma das canções mais conhecidas de Milton Nascimento.
Em 1972, o Clube da Esquina sairia de Minas Gerais para o mundo. Milton Nascimento, já conhecido nacional e internacionalmente, convidara o, então, menino Lô Borges para gravar um disco. Juntaram-se à empreitada, além dos músicos aqui citados, Eumir Deodato, Nelson Ângelo e Ronaldo Bastos. A “sede” do clube fora, temporariamente, transferida da esquina para uma casa na Praia de Piratininga, em Niterói (RJ). Lá, a heterogeneidade dos participantes, com influências que iam desde o jazz de Miles Davis até o rock dos Beatles, faria da gravação do álbum Clube da Esquina uma verdadeira oficina de experimentação poético/musical. A princípio, a crítica não entendera o caráter inovador do projeto. Todavia, hoje, os dois discos do Clube – posteriormente foi gravado o segundo, em 1978 – são reconhecidos mundialmente como clássicos da música brasileira.
Ao contrário do que possa parecer, o Clube da Esquina não existia enquanto espaço físico: tratava-se tão-somente de uma esquina entre as ruas Paraisópolis e Divinópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte. De dia, as crianças ali brincavam; à noite, os jovens tocavam suas violas, tomavam batidas de limão, namoravam e não deixavam os sonhos envelhecerem – mesmo com a crescente repressão do regime militar, instaurado com um golpe de estado em 1964.
Além do já citado cantor e compositor Milton Nascimento, o clube possuía outros “associados”, como os irmãos Márcio e Lô Borges, o compositor Fernando Brant, o multi-instrumentista Beto Guedes, os músicos Wagner Tiso e Toninho Horta, dentre outros. Cada um desses indivíduos é responsável, de alguma forma, pela concretização do “movimento” mineiro. Na verdade, é importante ressaltar que, diferentemente do movimento tropicalista ou das manifestações artísticas ligadas ao CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE, o Clube da Esquina não possuía um manifesto, propostas políticas, objetivos bem delineados ou qualquer outra característica comum aos movimentos artísticos daquele período. Contudo, isto não o torna menor, pois fora justamente com este posicionamento aparentemente “descompromissado” que eles confrontaram a realidade latino-americana.
Pode-se dizer que o embrião do Clube crescera paralelamente à amizade entre Bituca – como Milton era chamado pelos amigos – e Márcio Borges. Depois de assistirem a inúmeras sessões do filme Jules et Jim, de François Truffaut, os dois foram à casa da família Borges iniciar uma parceria que duraria anos. Daquele encontro nasceriam canções como "Crença", "Irmão de Fé" e "Gira, girou", que entrariam no primeiro disco de Milton, gravado em 1967. Já a parceria com Fernando Brant ocorre de maneira diferente. Milton havia composto uma canção e não sabia quem deveria pôr a letra. Assim, decide que Fernando seria a pessoa ideal para, através das palavras, expressar o que ele queria dizer com a música. Depois de muito hesitar, Fernando Brant escreve a bela "Travessia" – última palavra do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e, até hoje, uma das canções mais conhecidas de Milton Nascimento.
Em 1972, o Clube da Esquina sairia de Minas Gerais para o mundo. Milton Nascimento, já conhecido nacional e internacionalmente, convidara o, então, menino Lô Borges para gravar um disco. Juntaram-se à empreitada, além dos músicos aqui citados, Eumir Deodato, Nelson Ângelo e Ronaldo Bastos. A “sede” do clube fora, temporariamente, transferida da esquina para uma casa na Praia de Piratininga, em Niterói (RJ). Lá, a heterogeneidade dos participantes, com influências que iam desde o jazz de Miles Davis até o rock dos Beatles, faria da gravação do álbum Clube da Esquina uma verdadeira oficina de experimentação poético/musical. A princípio, a crítica não entendera o caráter inovador do projeto. Todavia, hoje, os dois discos do Clube – posteriormente foi gravado o segundo, em 1978 – são reconhecidos mundialmente como clássicos da música brasileira.
3 comentários:
Cabe ressaltar que Milton foi um dos poucos artistas que, mesmo acossado pela ditadura, não buscou asilo em outro País.
Vida longa ao bituca e seus companheiros.
PS: Para aqueles que quiserem conhecer mais sobre o movimento, acessem www.museudapessoa.net/clube/.
Ruas da Cidade
(Lô Borges e Márcio Borges)
Guacurus, Caetés, Goitacazes
Tubinambás, Aimorés
Todos no chão
Guajajaras, Tamoios, Tapuias
Todos Timbiras, Tupis
Todos no chão
A parede das ruas
Não devolveu
Os abismos que se rolou
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial
Arraial
Passa bonde, passa boiada
Passa trator, avião
Ruas e reis
Guajajaras, Tamoios, Tapuias
Tubinambás, Aimorés
Todos no chão
A cidade plantou no coração
Tantos nomes de quem morreu
Horizonte perdido no meio da selva
Cresceu o arraial
Arraial
Clube da Esquina — 1972
ERRATA: Guaicurus*
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