Da timidez brotou a coragem. O momento era inevitável. Ah, quem dera pudéssemos decidir quando e onde! Se assim o fosse, talvez amenizássemos nossas dores. O sofrimento, não. Este é opcional, diria o poeta. É interessante notar que, paradoxalmente, aqueles cujas escolhas direcionam-se para tal sentimento, são os mesmos vorazes consumidores de ungüentos. Os velhos industriais alquimistas agradecem. Mas, enfim, estávamos falando de um acanhado rapaz. Naquele ínterim, entre o espanto e o rubro rosto com espinhas, enquanto o suor involuntário escorria por debaixo da blusa branca do colégio, Federico nasceu. Sim, ele estava com 17 anos, mas era um nascimento diferente. A única semelhança com o parto é a passagem da escuridão do útero à luz do dia.
Respondera à pergunta da menina meneando a cabeça e levantando o queixo, conforme a situação exigia. Ele sabia falar, porém nenhuma frase, oração ou palavra saíra de sua boca. Nem os melhores fonoaudiólogos saberiam explicar o porquê dessa mudez repentina. O amigo leitor deve estar se perguntando: “O que havia de tão impactante na mensagem para deixar o receptor – Federico – entrevado? Quem é essa emissora?”. Sinto lhe informar, mas o conteúdo da conversa mantivera-se na trivialidade da vida. Agora, a menina, nada tinha de comum; pelo contrário, era a beleza mais estonteante e pura que ele havia visto.
Depois daquele dia, seus dias passaram a ser somente dias e as horas, seu insolente algoz. A imagem de Anêli refletia incansavelmente no espelho da mente. Seus enormes olhos lambuzavam a esverdeada íris de Federico tal qual a doçura do caramelo. Sua pele, de um branco gentil, recebera o pigmento das nuvens em seu estado a priori. Seu corpo, desabrochando-se, revelara o que nunca haverá de ser revelado e que fora fomentado pelos diferentes povos que aportaram em terras brasileiras. Seria humanamente impossível dividi-la, separando parte por parte, pois cada pedaço era responsável pela totalidade daquela mulher. E no entanto, se alguém perguntasse a Federico sobre o seu futuro, ele responderia: “Serei seu eterno tradutor”.
Coitado, mal sabia que estava engendrando-se pelas tortuosas trilhas da paixão e que, se a percorresse até o final – não falo do findar da chama –, chegaria ao amor. Da luta à ditadura e desta à utopia. Ora, essa é a vida, apesar dos covardes, apressados e indolentes sempre preferirem pular algumas etapas. Não, não quero ofendê-lo, pois sei o quanto lhe custa ler estas míseras linhas, querido leitor. Mas não posso conter-me em adiar o singelo desfecho desta estória que vos conto.
Federico sentia-se como uma panela de pressão prestes a explodir, indo do teto ao fogão, provocando a verdadeira explosão atlântica. Uma angústia dilacerante o acometia constantemente. Alguns amigos, preocupados com o seu estado psíquico, levaram-no a uma festa insossa onde conheceu três garotas. A primeira perguntou: “Qual é o seu nome?”. “Anêli”, ele respondeu. A segunda perguntou: “O que você faz?”. “Anêli, Anêli”, ele respondeu embasbacado. A terceira afirmou: “Estou afim de você”. Ele perguntou: “Anêli, Anêli, Anêli?”. E ela o respondeu com um tapa na cara.
Chega, não posso mais ser cúmplice de tamanha atrocidade, nem o pior dos homens merece tanto açoitamento. Preciso achar um culpado, alguém (ir) responsável pelos acontecimentos aqui narrados. Dessa forma, aleatoriamente, culpo Tales de Mileto. Por quê? Porque se, ao invés da água, ele tivesse escolhido a mulher como o princípio de todas as coisas, Federico não precisaria estar na pele dos heróis trágicos. Saberia que os raios do sol são apenas finas linhas brilhosas comparados à fulgurante luz da mulher. A mulher é o centro do universo. Por ela um homem faz moto-contínuo. Quero deixar bem claro que não estou levantando bandeira feminista – até porque sou do sexo oposto –, partidária ou qualquer coisa que o valha, e não tenho românticas pretensões. Estou apenas tentando contar um caso nada estúrdio.
Federico não sabia por que, mas alguma voz interior havia lhe dado um sinal de alerta. Precisava agir. Saiu de casa com a certeza de estar segurando - na mão molhada de suor frio - a única e última chance. As regras eram simples: não gaguejar; não tremer; não correr e, principalmente, não chorar. Sim, homem também chora. Contudo, em frente à divindade feminina, o macho deve-se portar como uma fortaleza, impermeável ao Cavalo de Tróia. Ah, vãs teorias! Anêli estava parada, risonha, mais bela do que qualquer outra flor. Federico, impávido, deu oito passos ao destino, balbuciou meia dúzia de palavras sufocadas e encostou seus trêmulos lábios na boca com formato de coração. Aconteceu! Se nós – reles mortais - tivéssemos ouvido as sábias palavras de Drummond, beijaríamos mais, e mais, e mais...
Respondera à pergunta da menina meneando a cabeça e levantando o queixo, conforme a situação exigia. Ele sabia falar, porém nenhuma frase, oração ou palavra saíra de sua boca. Nem os melhores fonoaudiólogos saberiam explicar o porquê dessa mudez repentina. O amigo leitor deve estar se perguntando: “O que havia de tão impactante na mensagem para deixar o receptor – Federico – entrevado? Quem é essa emissora?”. Sinto lhe informar, mas o conteúdo da conversa mantivera-se na trivialidade da vida. Agora, a menina, nada tinha de comum; pelo contrário, era a beleza mais estonteante e pura que ele havia visto.
Depois daquele dia, seus dias passaram a ser somente dias e as horas, seu insolente algoz. A imagem de Anêli refletia incansavelmente no espelho da mente. Seus enormes olhos lambuzavam a esverdeada íris de Federico tal qual a doçura do caramelo. Sua pele, de um branco gentil, recebera o pigmento das nuvens em seu estado a priori. Seu corpo, desabrochando-se, revelara o que nunca haverá de ser revelado e que fora fomentado pelos diferentes povos que aportaram em terras brasileiras. Seria humanamente impossível dividi-la, separando parte por parte, pois cada pedaço era responsável pela totalidade daquela mulher. E no entanto, se alguém perguntasse a Federico sobre o seu futuro, ele responderia: “Serei seu eterno tradutor”.
Coitado, mal sabia que estava engendrando-se pelas tortuosas trilhas da paixão e que, se a percorresse até o final – não falo do findar da chama –, chegaria ao amor. Da luta à ditadura e desta à utopia. Ora, essa é a vida, apesar dos covardes, apressados e indolentes sempre preferirem pular algumas etapas. Não, não quero ofendê-lo, pois sei o quanto lhe custa ler estas míseras linhas, querido leitor. Mas não posso conter-me em adiar o singelo desfecho desta estória que vos conto.
Federico sentia-se como uma panela de pressão prestes a explodir, indo do teto ao fogão, provocando a verdadeira explosão atlântica. Uma angústia dilacerante o acometia constantemente. Alguns amigos, preocupados com o seu estado psíquico, levaram-no a uma festa insossa onde conheceu três garotas. A primeira perguntou: “Qual é o seu nome?”. “Anêli”, ele respondeu. A segunda perguntou: “O que você faz?”. “Anêli, Anêli”, ele respondeu embasbacado. A terceira afirmou: “Estou afim de você”. Ele perguntou: “Anêli, Anêli, Anêli?”. E ela o respondeu com um tapa na cara.
Chega, não posso mais ser cúmplice de tamanha atrocidade, nem o pior dos homens merece tanto açoitamento. Preciso achar um culpado, alguém (ir) responsável pelos acontecimentos aqui narrados. Dessa forma, aleatoriamente, culpo Tales de Mileto. Por quê? Porque se, ao invés da água, ele tivesse escolhido a mulher como o princípio de todas as coisas, Federico não precisaria estar na pele dos heróis trágicos. Saberia que os raios do sol são apenas finas linhas brilhosas comparados à fulgurante luz da mulher. A mulher é o centro do universo. Por ela um homem faz moto-contínuo. Quero deixar bem claro que não estou levantando bandeira feminista – até porque sou do sexo oposto –, partidária ou qualquer coisa que o valha, e não tenho românticas pretensões. Estou apenas tentando contar um caso nada estúrdio.
Federico não sabia por que, mas alguma voz interior havia lhe dado um sinal de alerta. Precisava agir. Saiu de casa com a certeza de estar segurando - na mão molhada de suor frio - a única e última chance. As regras eram simples: não gaguejar; não tremer; não correr e, principalmente, não chorar. Sim, homem também chora. Contudo, em frente à divindade feminina, o macho deve-se portar como uma fortaleza, impermeável ao Cavalo de Tróia. Ah, vãs teorias! Anêli estava parada, risonha, mais bela do que qualquer outra flor. Federico, impávido, deu oito passos ao destino, balbuciou meia dúzia de palavras sufocadas e encostou seus trêmulos lábios na boca com formato de coração. Aconteceu! Se nós – reles mortais - tivéssemos ouvido as sábias palavras de Drummond, beijaríamos mais, e mais, e mais...
Um comentário:
Me fogem as palavras...
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