domingo, 2 de novembro de 2008

De Charlie Chaplin, Luzes da Cidade (City Lights, 1931)


Desde que os irmãos Lumière inventaram o cinematógrafo, em 1895, até a era do digital, inúmeros artífices surgiram na história do cinema: diretores, roteiristas, atrizes, atores e todos os indivíduos necessários à construção de um filme. No entanto, poucos conseguiram deixar sua marca. Charlie Chaplin é uma rara exceção. O gênio imprescindível da sétima arte morreu aos 88 anos, deixando um vasto legado. Luzes da Cidade (1931) destaca-se pela naturalidade, beleza e pelos inconfundíveis sons deste filme mudo.

O vagabundo Carlitos (Chaplin) caminha pelas ruas da cidade, sem rumo ou objetivo. Seu jeito peculiar provoca o escárnio dos vendedores de jornal. A sociedade olha-o obliquamente, mas ele não se importa. Porque seu coração guarda o mundo dentro de si. Viver é preciso. Assim, entre trapalhadas e passos desajeitados, encontra uma florista cega (Virginia Cherrill). À bela jovem, Carlitos concede o descompassado coração.

Em muitas obras, Chaplin demonstra-se preocupado com os problemas sociais, como em Tempos Modernos (1936) ou em O Grande Ditador (1940). Nessa película, apesar de não tocar tão veemente na questão, insere, de forma cômica, algumas críticas. Ao impedir o suicídio de um excêntrico milionário (Harry Myers), Carlitos é visto como a redenção daquele capitalista. Contudo, quando a embriaguez cessa, a amizade termina. E ele volta a ser apenas a escória.

O amor entre Carlitos e a florista aumenta à medida que ela sente a bondade inerente àquele vagabundo. Ela acredita que ele é um homem rico quando, na verdade, trabalha arduamente para ajudá-la: consegue um emprego, mas é demitido, entra numa luta de boxe, mas é nocauteado. Lendo o jornal, descobre que um médico havia encontrado a cura da cegueira, e fará de tudo para conseguir o dinheiro necessário. A seqüência final, infelizmente, assemelha-se à realidade. Carlitos é preso, acusado de roubo, enquanto os verdadeiros ladrões estão foragidos.

Luzes da Cidade possui uma narrativa singela, porém belíssima. A trilha sonora – assim como a direção e o roteiro – fora feita pelo próprio Chaplin. Depois de sofrer todas as concessões na prisão, a alma errante emerge da escuridão. Carlitos, coberto com farrapos, encontra-se com a florista. Embora ela possa enxergar, somente o reconhece quando toca a sua mão. Tudo é clarividente, todos os sentidos estão voltados àquele momento. A música é o complemento do silêncio. Essa certamente é uma das cenas mais comoventes do cinema. Criada pelo inesquecível Charlie Chaplin.

Um comentário:

Thiago Medeiros disse...

A falta de recursos técnicos (ou melhor: todo o recurso técnico possível da época) do "cinema de Chaplin" torna a narrativa incrivelmente única. A não-verbalidade torna o Chaplin inesquecível.
Não consigo deixar de lembrar de Tempos Modernos. O personagem de Chaplin no filme se expressa tão bem como se lesse uma sinopse de 500 páginas.