sábado, 28 de junho de 2008

Cinema Novo: por uma nova estética



"No Brasil, o Cinema Novo é uma questão de verdade e não de fotografismo. Para nós, a câmera é um olho sobre o mundo, o travelling é um instrumento de conhecimento, a montagem não é demagogia mas a pontuação do nosso ambicioso discurso sobre a realidade humana e social do Brasil!" (Glauber Rocha)

A insatisfação pode contribuir para gerar grandes idéias. Entre Congressos e discussões sobre os rumos do cinema brasileiro, surge, no final da década de 1950, um dos maiores movimentos cinematográficos do país: o Cinema Novo. Com a falência das grandes companhias cinematográficas paulistas, jovens cineastas vindo de vários lugares, com formações diferentes, mas com a mesma vontade de mudar a realidade, decidem lutar por uma nova estética.

O conceito central, “uma câmara na mão e uma idéia na cabeça”, contrariava os caríssimos e artificiais filmes da empresa Vera Cruz. O Cinema Novo queria revolucionar o cinema e a cultura nacional. Queria incorporar novas formas de linguagem para ir ao encontro da sociedade brasileira. Os primeiros longas-metragens surgem na Bahia: A Grande Feira, de Roberto Pires, Bahia de Todos os Santos, de Trigueirinho Neto e Barravento, de Glauber Rocha.

No Rio de Janeiro, alguns jovens ligados ao CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes) decidem fazer um filme que deslanche o Cinema Novo na cidade. É Cinco Vezes Favela, filme em cinco episódios dirigidos por Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Carlos Diegues, Miguel Borges e Marcos Farias. O filme Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos, também é um marco do movimento.

Os filmes brasileiros não se resumiam mais à chanchada. O Cinema Novo rompe com este gênero, busca uma nova concepção, um novo ideal. "O cinema é, antes de tudo, uma indústria, inclusive se é dirigido contra a indústria”, afirmara Glauber. No Festival de Cannes de 1964, Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber, e Vidas Secas, de Nelson Pereira, despertam o interesse da imprensa européia, mesmo sem ganharem prêmios oficiais.

Além dessa primeira fase, o Cinema Novo ganhou novos adeptos, em diferentes contextos. Destacam-se ainda, Os Fuzis, de Ruy Guerra, e Macunaíma, de Joaquim Pedro. Infelizmente, como todo projeto criativo do período, o Cinema Novo foi abortado pelo regime militar. Mas, décadas depois, tanto as películas como os cineastas continuam causando polêmica. Em busca de um cinema revolucionário, o Cinema Novo mostrou um Brasil esquecido, subdesenvolvido (o termo ainda era utilizado) e desigual. Um país que não estava nas telas dos cinemas.

“A colonização não se racha em Hollywood que pode contratar vários diretores brasileiros para trabalhar. Mas o importante não é fazer carreira pessoal. Importante é ter consciência. O fundamental é lutar para libertar o mercado nacional." (Glauber Rocha)

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