Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon é o título estúrdio de um livro primoroso. Na verdade, é o nome dado a última narrativa dessa obra cujos 150 contados, astuciados, sucedidos e acontecidos do povinho do Brasil (continuação do título) constituem o que de mais elucidativo se tem sobre a cultura brasileira. Se Sérgio Buarque, Manuel Bomfim, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro não conseguiram responder todos os questionamentos a respeito da formação histórica do país, é através de José Cândido de Carvalho (1914-1989) que se compreende, efetivamente, as peculiaridades dessa aquarela.
“As páginas cotidianas de José Cândido de Carvalho reunidas em volume constituirão sem dúvida uma das mais ricas contribuições literárias à nossa humorística, da fixação do patusco, do bufo, do fundo histriônico de uma população julgada macambúzia, enfadada, deprimida”, elogiara o amigo Gilberto Amado. É provável que o leitor tenha dificuldades em distinguir, em termos estruturais, o que os olhos veem (ou leem). Contudo, o indefinível, neste caso, é justamente o ponto de convergência e semelhança entre sujeito e objeto de análise. Assim, não é de se estranhar que, simultaneamente, o trágico e o cômico estejam presentes nas mesmas anedotas, como neste trecho: “Aquilo é que era educação! A gente largava a palmatória na meninada de sair verbos e gerúndios pela ponta dos dedos”.
José cândido de Carvalho, embora tenha escrito poucos livros, atuou em diversas áreas – inclusive como funcionário público (profissão que ironiza em inúmeros contos) no Departamento Nacional do Café, onde ficou pouco tempo. Mas foi ao Jornalismo que dedicou a maior parte da vida. Na década de 1930, exerceu a função de redator e colaborador em diversos periódicos de Campos (sua terra natal), e, em 1942, convidado por Amaral Peixoto, então interventor no estado do Rio de Janeiro, dirigiu O Estado, na cidade de Niterói. Eleito em 23 de maio de 1973 para a Cadeira nº 31, sucedendo a Cassiano Ricardo, foi recebido em 10 de setembro de 1974 pelo acadêmico Herberto Sales na Academia Brasileira de Letras. Entretanto, o reconhecimento de sua obra viera antes, com as inúmeras premiações do romance O Coronel e o Lobisomem (1964) – escrito 25 anos depois de ter publicado o primeiro livro, Olha para o céu, Frederico!
De fato, a originalidade de sua obra não está somente na criação de lugares e personagens (qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência), no estilo irônico ou no humor. Encontra-se, outrossim, na junção de todos estes elementos que, utilizados de forma correta, delineiam as picuinhas e mesquinharias, a mediocridade e, paradoxalmente, as grandezas dessa Pátria amada. “Esse tempo não foi feito para mim. Um dia não vai haver mais azul, não vai haver mais pássaros e rosas. Vão trocar o sabiá pelo computador. Estou certo que esse monstro, feito de mil astúcias e mil ferrinhos, não leva em consideração o canto do galo nem o brotar das madrugadas. Um mundo assim, primo, não está mais por conta de Deus. Já está agindo por contar própria”, dissera o autor, em 1970. Ao que tudo indica, ele estava certo.
“As páginas cotidianas de José Cândido de Carvalho reunidas em volume constituirão sem dúvida uma das mais ricas contribuições literárias à nossa humorística, da fixação do patusco, do bufo, do fundo histriônico de uma população julgada macambúzia, enfadada, deprimida”, elogiara o amigo Gilberto Amado. É provável que o leitor tenha dificuldades em distinguir, em termos estruturais, o que os olhos veem (ou leem). Contudo, o indefinível, neste caso, é justamente o ponto de convergência e semelhança entre sujeito e objeto de análise. Assim, não é de se estranhar que, simultaneamente, o trágico e o cômico estejam presentes nas mesmas anedotas, como neste trecho: “Aquilo é que era educação! A gente largava a palmatória na meninada de sair verbos e gerúndios pela ponta dos dedos”.
José cândido de Carvalho, embora tenha escrito poucos livros, atuou em diversas áreas – inclusive como funcionário público (profissão que ironiza em inúmeros contos) no Departamento Nacional do Café, onde ficou pouco tempo. Mas foi ao Jornalismo que dedicou a maior parte da vida. Na década de 1930, exerceu a função de redator e colaborador em diversos periódicos de Campos (sua terra natal), e, em 1942, convidado por Amaral Peixoto, então interventor no estado do Rio de Janeiro, dirigiu O Estado, na cidade de Niterói. Eleito em 23 de maio de 1973 para a Cadeira nº 31, sucedendo a Cassiano Ricardo, foi recebido em 10 de setembro de 1974 pelo acadêmico Herberto Sales na Academia Brasileira de Letras. Entretanto, o reconhecimento de sua obra viera antes, com as inúmeras premiações do romance O Coronel e o Lobisomem (1964) – escrito 25 anos depois de ter publicado o primeiro livro, Olha para o céu, Frederico!
De fato, a originalidade de sua obra não está somente na criação de lugares e personagens (qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência), no estilo irônico ou no humor. Encontra-se, outrossim, na junção de todos estes elementos que, utilizados de forma correta, delineiam as picuinhas e mesquinharias, a mediocridade e, paradoxalmente, as grandezas dessa Pátria amada. “Esse tempo não foi feito para mim. Um dia não vai haver mais azul, não vai haver mais pássaros e rosas. Vão trocar o sabiá pelo computador. Estou certo que esse monstro, feito de mil astúcias e mil ferrinhos, não leva em consideração o canto do galo nem o brotar das madrugadas. Um mundo assim, primo, não está mais por conta de Deus. Já está agindo por contar própria”, dissera o autor, em 1970. Ao que tudo indica, ele estava certo.
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